Para não dizer que eu não falei das flores!

Entre luzes e sombras, vivemos todos nós!
O passado nos relembra alegrias e boas lembranças, fardos e más recordações, em forma de saudosa ou melancólica nostalgia!
O presente pode refletir o antes e o futuro ser construído em cima desse alicerce.
Dizem, então, os estudiosos nos assuntos da mente e da alma que é necessário realizarmos de vez em quando, uma catarse, ou seja, uma libertação, expulsão ou purgação daquilo que se tornou estranho à essência ou a natureza do nosso ser. O objetivo é encerrar pendências, solucionar conflitos, eliminar o lastro desnecessário e resgatar os acontecimentos passados, sob um novo olhar, sob um novo prisma, agora já arrefecidos os sentimentos e batido a poeira no chão.
Nesse ano de 2007, completo 27 anos de Umbanda, esse marco representa o fechamento de um ciclo.
Para quem desconhece a minha história, esse ciclo se iniciou em 1979, em Fortaleza/CE onde resido, quando pisei pela primeira vez, em um terreiro de Umbanda. No ano de 1986, esse terreiro adotou a Umbanda Omolocô, onde fui iniciado e no meio do ano de 2006, me afastei definitivamente.
Os 25 anos e meio de vida umbandista, nesse terreiro em questão, possuem seu ponto alto, nos sentimentos muito bem expressos no livro, que escrevi e foi lançado pela editora Ícone em 2002, "Umbanda Omolocô – Liturgia, rito e convergência na visão de um adepto".
Os acontecimentos que culminaram com o meu afastamento, são estritamente pessoais e representados pela decepção com pessoas, a desilusão com atitudes, o desencanto com a descoberta de realidades inaceitáveis e finalmente a falta de respeito, consideração e reconhecimento pelas décadas de dedicação extrema.
Falamos assim em dois lados da mesma moeda, em situações que podem muito bem, fazer parte da vida de muita gente, umbandista ou não.
A todo instante, podemos vivenciar essas etapas em nossa existência. E quais são elas?
O período de encantamento, representado pela descoberta de algo novo em nossas vidas; a etapa da estabilidade que ocorre após esse deslumbramento inicial, alicerçada pela fidelidade, o respeito, a dedicação e a consideração; e finalmente, o encontro com a realidade, fruto do tempo, que pode muito bem, trazer resultados positivos ou negativos, dependendo da qualidade das reais intenções, da sinceridade, e das verdades, que existiam nos elementos envolvidos em cada caso.
Ao nos depararmos com essa realidade, suas etapas e sendo os seus resultados negativos, é preciso que se tome uma atitude cartesiana. Tal qual, a Descartes, produzir uma desconstrução, até aceitarmos que nada somos para reconstruir tudo novamente e voltar a sermos algo válido para nós mesmos e não mais para os outros.
Nesses casos, invariavelmente convivemos com as provações da solidão, do descrédito imposto por outrem, da segregação coletiva inexplicável e do silêncio proposital para deixar-nos sem resposta. Tudo isso serve para descobrimos e reconhecermos por si só, os valores e qualidades inerentes a nossa alma e a força da nossa fé. No popular, como se diz, o que não nos mata, engorda!
Importante é sabermos separar as coisas. Em qualquer situação, a religião nada tem haver com as atitudes das pessoas.
Graças a Zambi, esta foi a salvaguarda que preservou a minha fé, me fez continuar em frente.
Esses reveses, portanto, se tornou os dínamos geradores das condições para eu chegar onde estou hoje.
Aprendi a caminhar com minhas próprias pernas, conquistei um auto-conhecimento que não possuía, ampliei minha visão de mundo, ganhei em experiência e vivência e hoje, me considero um umbandista, um pensador com clareza de opinião e dotado de um discernimento crítico, enfim, uma alma livre!
Ao provocarmos essa catarse, a vantagem é descobrirmos que, verdadeiramente, nada são as causas geradoras desses reveses, que os significados dessas causas em sua vida, viraram pó e você conseguiu como Paulo, retirá-las das suas sandálias.
Eliminado assim o lastro, saímos fortalecidos e renovados, na certeza que estamos prontos para seguir a jornada, sem dever mais nada ao passado.
Por todo esse processo vivenciado, permitam-me pronunciar um sincero e totalmente verdadeiro: MUITO OBRIGADO!
Afinal, fecho esse ciclo de 27 anos, como escritor e umbandista plenamente atuante no movimento. Lancei o blog "Umbanda sem mistério", além de contribuir com artigos para o Correio da Umbanda e o JUCA – Jornal de Umbanda Carismática. Participo de diversas listas de discussão sobre Umbanda na internet.
Sou Coordenador Regional para o Ceará do CONUB – Conselho Nacional da Umbanda do Brasil e faço parte do Conselho Editorial do JBU – Jornal Brasileiro de Umbanda, com artigos publicados.
Sou ligado a Escola de Síntese e possuo laços profundos e participação ativa na O.I.C.D. – Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino, na F.T.U. – Faculdade de Teologia de Umbanda e contatos relevantes com a Umbanda Omolocô em Minas Gerais.
Freqüento atualmente, o C.E.U. Jesus, Maria e José, dirigido por Mãe Balbina, em Fortaleza/CE onde resido, e junto com Mãe Gardênia de Iansã e Débora do Ogum, irmãs-de-fé, de trabalho e de luta, estamos procurando colaborar da melhor forma com o movimento umbandista. Fazemos parte de uma nova geração, que respeitando a sabedoria e a experiência dos mais antigos, está batalhando para inserir definitivamente a Umbanda no contexto da sociedade, livre de preconceitos e discriminação, além de promover uma renovada conscientização política, filosófica, religiosa, social e cultural de todos os umbandistas.
Isso tudo é que me traz a plena certeza, do quanto essa catarse propiciou o final de um ciclo e a construção de um novo.
Para não dizer que eu não falei das flores, no jardim da minha vida, hoje, somente sinto o cheiro, daquelas que eu mesmo plantei depois que o solo, ficou totalmente limpo das ervas daninhas!
Artigo anterior: Faculdade sem o ABC!

Comentários

Anônimo disse…
Me emocionei com suas palavras, atualmente me encontro em um completo dilema, ler seu artigo me reacendeu uma luz que achei estar apagando...Um grande abraço.(madeleine)

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